Fragmentos de uma infância contada
Nas bibliotecas de centenas de escolas brasileiras, assim como nas Bibliotecas Públicas de todo o país, as crianças leitoras encontram, desde sua primeira edição em 1980, o livro Olhinhos de Gato (MEIRELES: 1980.). A autora, Cecília Meireles, alguns já conhecem das antologias lidas em sala de aula. Certamente para um grupo desses leitores infantis, o nome de Cecília está associado à descoberta da poesia, uma vez que para não poucas crianças foi nas páginas de Ou isto ou aquilo (MEIRELES: 1977. ) que a magia da palavra poética se revelou.Caso os pequenos leitores tenham entre mãos a primeira edição de Olhinhos de Gato, com linda capa da Maria Cristina Simi Carletti em que uma menina aparece no limiar entre a intimidade do universo doméstico, representado pelas flores de um papel de parede antigo, e o arco-íris de cores do mundo exterior, aprenderão, na contracapa do livro, que as páginas que escolheram para ler possuem o dom de fazê-las voar “com Olhinhos de Gato numa viagem de emoções sentidas no fundo do coração” por “um mundo de sonhos, medos, alegrias, dores e fantasias... A Infância” (MEIRELES: 1980).É discreto o para-texto dessa primeira edição em livro das memórias infantis de Cecília: os treze capítulos são apenas numerados e, além da contra-capa em queos editores resumem o livro como uma viagem onírica, somente uma breve Nota do Editor esclarece que os textos que compõem o livro foram publicados anteriormente, ao longo de dois anos, numa revista portuguesa; que os personagens ocultos sob curiosos pseudônimos são reais e povoaram o universo infantil da autora; e que Cecília-menina aparece na narrativa sob a máscara da personagem título. Caso a criança escolha para ler uma das edições mais recentes do livro[2], o para-texto é mais complexo. Na capa negra, uma montagem fotográfica um tanto assustadora mostra um rosto, metade menina, metade gato. Na contra-capa, é outro o resumo do livro apresentado:
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