11 de abr. de 2008

Manuel Bandeira comentando METAL ROSICLER

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REBANHO DE CANTIGAS
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Cecília Meireles: Metal Rosicler
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METAL ROSICLER: Que título para um livro de poesia ! Só ele já é todo um poema. Não foi invenção de Cecília; a expressão existia na língua, mas muito escondida nessa rica mina que é a obra de Antonil Cultura e Opulência do Brasil, onde o poeta foi garimpá-la. De Cecília é o símbolo que ela pôs na
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Negra pedra, copiosa mina

Do pó que imita a vida e a morte;

- e o metal rosicler descansa.

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A poesia de Cecília é triste, mas de uma tristeza que jamais chora ou grita. Seu luto é todo reflexivo e muitas vezes chega a sorrir em “acasos de esperança”. Poesia que ensina a sofrer conformadamente. Os poemas de Cecília são “rebanhos de cantigas, felizes de solidão”. Leiam-se estas três quadras em que chuvas, jasmins, jardins e nuvens se compõem em perfumes de eternidade:
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Chovem duas chuvas:
de água e de jasmins
e por estes jardins
de flores e nuvens.
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Sobem dois perfumes
por estes jardins:
de terra e jasmins,
de flores e chuvas.
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E os jasmins são chuvas
e as chuvas , jasmins,
por estes jardins
de perfume e nuvens.
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Todos os poemas de Cecília são assim: perfeitos:
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Cada palavra em seu lugar
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
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Algum poeta moderno terá chamado burguesa à rosa. Cecília defende a flor preferida de Rilke, a flor que ele tornou imarcescível para o seu túmulo no famoso epitáfio. Freqüentemente há uma rosa na poesia de Cecília, revelando-nos “a razão de ser bela em manhã breve pra a derrota de todas as tardes”.E foi com uma rosa, por ela mesma desenhada, que Cecília me dedicou rosiclermente o seu último livro, do melhor rosicler. Obrigada, mestra a amiga.
[29.V.1960].
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Manuel Bandeira. Andorinha, Andorinha, Editora José Olympio, p.211-212

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